“A televisão é uma indústria que dormiu e perdeu tempo”
- Rafael Bitencourt e Claudia Assencio (Tempo D
- 2 de jul. de 2019
- 3 min de leitura
No cenário em que novas mídias reinam absolutas, a despeito das seguidas quedas na audiência, de demissões em massa e até da credibilidade ameaçada do outrora mais popular meio de comunicação, Marcelo Tas é enfático. “A televisão é uma indústria que dormiu. Perdeu muito tempo desprezando essa transformação (digital) e, agora, está pagando um preço altíssimo por isso”, afirma o comunicador, que participou do 13º Congresso Empresarial Acipi (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba).

Para Marcelo Tas, TV perdeu tempo desprezando a transformação digital FOTO: TEMPO D COMUNICAÇÃO
Graduado em Engenharia Civil, Tas ganhou reconhecimento nacional por uma já longeva trajetória no audiovisual brasileiro, em que transitou por diferentes emissoras. Na TV Cultura, interpretou Professor Tibúrcio no infantil Rá-Tim- Bum. Despertou a ira de poderosos quando deu vida ao desconcertante repórter fictício Ernesto Varela, que passou pela TV Gazeta, Record e SBT. O grande reconhecimento veio com o extinto CQC, da Band, em que, da bancada, liderava um grupo de repórteres nada convencionais.
O currículo invejável, que reúne trabalhos como ator, roteirista e apresentador, parece não ter lhe subido à cabeça. Ao contrário, identifica a falta de humildade como um motivador da queda. “Uma lição importante é o cuidado com a arrogância. Quando você acha que atingiu o máximo, cuidado, porque as coisas, hoje, mudam muito rapidamente. O telespectador, atualmente, tem muito mais opções de como gastar o tempo dele. E a televisão o tratou como um cara passivo”, diz.

Tas ganhou reconhecimento por trajetória no audiovisual brasileiro FOTO: TEMPO D COMUNICAÇÃO
Tas não acredita no fim da TV, mas diz que mudanças são necessárias. A reinvenção, na sua opinião, passa por “ouvir mais o telespectador”. “Anteriormente, nós tínhamos um consumidor passivo. E independentemente de onde ele está, da classe social, idade, ele tem acesso, voz, poder crítico, que são coisas que, geralmente, nos assustam”, conta.
“A televisão precisa ouvir o seu cliente, o telespectador, e entender quais são as necessidades dele. É um momento muito decisivo para a indústria da televisão”.
FAKE NEWS E ROBÔS – Ao mesmo tempo em que se estabelecem cada vez mais como uma realidade aparentemente imutável, as redes sociais e as novas mídias, de uma forma geral, trazem infortúnios. A grande disseminação das chamadas Fake News é, talvez, o maior deles.

Palestrante, Marcelo Tas reúne trabalhos como ator, roteirista e apresentador FOTO: TEMPO D COMUNICAÇÃO
“Fake News é um nome muito moderno para uma coisa muito antiga, que é contar mentira. Agora, qual é a novidade? A aceleração. Temos que ter melhores filtros, entender as causas. As ferramentas estão aí. Nós temos que aprender a usá-las para fazer o que importa, que é transformar a sociedade”, diz Tas.
Ao falar sobre os bots, aplicações de software concebidas para simular ações humanas repetidas vezes de maneira padrão, como faria um robô, utilizadas, inclusive, em campanhas políticas, Tas consola aqueles que acreditam que tais softwares substituirão os humanos em um futuro não tão distante.
“Quem acreditar que os robôs vão substituir os humanos, estará caindo em uma falsa pista. Porque o robô só consegue substituir quem tem o comportamento automatizado. Eles só conseguem substituir pensamentos que são previsíveis. Um algoritmo só consegue repetir algo que já foi programado, inclusive, por um humano. Quem não quer ser substituído por um robô, basta não trabalhar como um robô”.
TECNOLOGIA E RESPONSABILIDADE – Marcelo Tas define a tecnologia de forma tão simplória quanto eficiente. “Para mim, tecnologia é igual faca de pão. Você pode usar a faca para cortar o pão ou o pescoço da mulher amada. Quem usa a tecnologia é que tem a responsabilidade por ela. A tecnologia, em si, não é nem boa nem má. Você pode usar a tecnologia para causar um dano, como a violência ou para espalhar a educação como nunca antes, o que é muito possível, como já fizemos antes, com a televisão”.

Marcelo Tas durante palestra em Piracicaba FOTO: TEMPO D COMUNICAÇÃO
“Nós nos movimentamos pela emoção. No fundo, o que nós queremos da vida é acordar e no final do dia estarmos diferentes de como acordamos. Se apaixonar, conhecer alguém, aprender coisas que vão mudar a sua vida. No fundo, o ser humano tem as mesmas necessidades, que são se emocionar e se transformar”, completa. A tecnologia, certamente, permite tudo isso. E com uma velocidade cada vez maior.
Comments