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“O Estado brasileiro é produtor de notícia falsa”

  • Rafael Bitencourt & Claudia Assencio Tempo D
  • 5 de set. de 2018
  • 3 min de leitura

CACO BARCELLOS

Para experiente jornalista, a melhor ferramenta contra as Fake News é ir às ruas

O perigo que as chamadas Fake News representam, especialmente às vésperas das eleições, em cenário marcado pela polarização e intolerância, é pauta constante em setores distintos da sociedade. O jornalista Caco Barcellos, idealizador do programa Profissão Repórter, da Rede Globo, já elegeu um dos grandes vilões. “O Estado brasileiro é produtor de notícia falsa”, disse, durante entrevista minutos antes da palestra “Superando desafios: O verdadeiro valor da vida”, que ministrou, em Piracicaba, durante o evento “Casa Aberta 2018”, realizado pelo Senac.


Foto: Rafael Bitencourt

“Sempre que um jovem é morto pelo Estado, e são muitos, tem Fake News. A primeira coisa que fazem é desqualificar moralmente a vítima, como se ela fosse culpada pela própria morte. E as coisas não são assim, são mentiras. Os jovens são chamados de bandidos. Aparece a teoria que diz que ‘bandido bom é bandido morto’”, afirma o profissional, ao reafirmar que, embora o conceito seja recente, a prática remonta tempos sombrios.


“Durante a ditadura, havia produção de Fake News todo o tempo. Sempre que morria um jovem, por questões ideológicas, ele era tido como comunista. O que fazia um torturador? Era um produtor de Fake News. E a imprensa inteira publicava a versão oficial que quase sempre era mentirosa. Dizia que houve troca de tiros em alguma cidade, quando na verdade a vítima havia sido presa e torturada até a morte”, opina.


Para o profissional, o que o jornalismo tem de essência é o melhor antídoto contra essa prática. “A melhor ferramenta contra Fake News é ir para a rua e ver como as coisas são. Por exemplo, uma pesquisa que diz que as mulheres estão consumindo mais álcool que os homens: Poderíamos simplesmente publicar isso, a partir da informação do especialista. Mas não nos contentamos e vamos à rua, verificar se isso realmente está acontecendo”, explica Barcellos.


“Se isso se mostra verdadeiro pela nossa apuração antiga, simplória, artesanal, que é por meio da conversa com as pessoas na rua, estamos dando veracidade àquele dado. Reforçamos isso e ajudamos o telespectador a acreditar. Esse processo de rua é fundamental para poder informar melhor”, diz.


Foto: Claudia Assencio

INVESTIGAÇÃO X DENÚNCIA – Barcellos acredita que fazer jornalismo investigativo não significa denuncista. “Toda ação, de qualquer repórter, deve ser investigativa. Mesmo em reportagens de comportamento, por exemplo, estamos apurando ao máximo, ou seja, investigando. Mas as pessoas estão confundindo investigação com denúncia”, afirma, ao citar como exemplo a cobertura da Operação Lavo Jato.


“A Lava Jato nem é trabalho da imprensa e, sim, de um promotor, que faz a apuração dele. A gente pode checar, fazer uma investigação nossa (dos jornalistas), como dificilmente se faz. O que se faz é publicar um simples dossiê de um promotor. Isso está longe de ser investigativo, ao contrário do que as pessoas pensam, só pelo fato de estar denunciando, falando mal de alguém. O nosso dever é o de apurar muito qualquer história”, opina.


Foto: Rafael Bitencourt

PROFISSÃO REPÓRTER – Criado originalmente como um quadro do Fantástico, o Profissão Repórter tornou-se um programa fixo na grade da Rede Globo, em 2008, e, ao reunir jovens repórteres sob a orientação do experiente idealizador, mantém a proposta de mostrar diferentes ângulos das notícias.


“O repórter, inevitavelmente, está diante da realidade do país. Vivemos num país de características muito fortes relacionadas, sobretudo à desigualdade, à profunda injustiça social. Injustiça econômica, principalmente. Essa situação extremamente radical determina que nossos problemas também sejam radicais. E nem sempre todo mundo se dá conta dessas diferenças. Eu tenho a obrigação de mostrar essas situações radicais”, diz o jornalista.


“Esses extremos é que são os causadores dos principais problemas (no Brasil). E eu faço parte de um programa em que a equipe acredita que o nosso principal problema é a desigualdade. E nós buscamos mostrar isso com a esperança que haja alguma transformação”, completa Caco Barcellos.





 
 
 

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